Avisos:

A Banda de Amarante vai apresentar-se em Peroselo, Penafiel, para a festa em honra da Nª Srª da Visitação, no próximo dia 7 -- VI Estágio de Verão e Curso de Aperfeiçoamento de Sopros e Percussão (este ano com o maestro José Rafael Pascual Vilaplana) de 19 a 23 de Agosto -- Banda Musical de Amarante - Vencedora do 1º Prémio/III Escalão do IV Concurso Internacional Ateneu Artístico Vilafranquense e Prémio Tauromaquia

sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

III Curso de Direcção


O que se pode fazer pela música?
Está visto que, em Portugal, se torna cada vez mais difícil viver de e para ela. A actividade musical é ainda muito vista como algo secundário, do género “és músico, e que mais fazes na vida?”; é tida como algo que “até” pode ser feito de borla, que não tem mal. Os músicos com uma formação intensiva e superior na área lutam para sobreviver, como, aliás, grande parte de outras importantíssimas profissões. Música é uma actividade essencial, e pode ser uma profissão tão importante como as outras, pode ajudar a salvar vidas, por muito ilógico que isso possa parecer. A música está sempre presente na nossa mente e na nossa vida. Na nossa cabeça há-de andar sempre “aquela” melodia subtil e recalcada que, por vezes, até nos dá alguma indisposição, por insistir ficar na memória; muitos momentos da nossa vida são marcados por músicas e canções que, no nosso íntimo, poderiam traduzir nota a nota esse tal momento que queremos descrever; os acordes musicais podem, muito bem, traduzir estados de espírito, sendo fácil associar um acorde maior a um humor positivo e um acorde menor a um humor (mais) negativo; sons do nosso corpo e essenciais à vida podem ser reproduzidos por instrumentos musicais, desde a nossa pulsação à nossa respiração, por sopros nos bocais, premir cordas de um baixo sob pressão, etc., etc.

Não há limites às potencialidades musicais e, ainda assim, o ser profissional nesta área continua em parte mal compreendido. No entanto, este mundo permite o amadorismo, porque a música é universal, tem partes complexas, mas também tem partes simples, permitindo que um aficcionado ou um conjunto tirem um efeito musical bastante gracioso e expressivo; sendo que o amadorismo também sofre de um mal idêntico ao profissionalismo na música – as bandas são tidas, por vezes, como meros elementos de romarias, esquecendo as potencialidades que uma instituição organizada pode ter na divulgação, proliferação, formação e fundação de ideais e saberes musicais.

A função das bandas filarmónicas é e sempre será a de “orquestras do povo”. Uma orquestra do povo não se deve só limitar a divertir o anónimo que passa e até se põe a conversar alto perturbando a execução. Uma boa orquestra (mesmo só executando concertos) ensina os seus ouvintes… Seja a ouvir, a apreciar ou a saber estar. A função das bandas filarmónicas é ensinar, também. Seja nas suas escolas, seja nas iniciativas que promove, seja no repertório que escolhe, uma banda deve dar um exemplo de uma gestão que combine a satisfação popular com a dignificação da música como arte (não se limitando só à primeira vertente). Porque as bandas são um agrupamento musical de valor e a música de sopros é tão importante como a música sinfónica (i.e. de orquestras sinfónicas).

A realização de um Curso de Direcção vem nessa vertente. É sempre necessária uma proliferação de conhecimentos eficaz e que abra novos horizontes na visão que há dos potenciais gestores de um grupo musical – os maestros. Ganhar o lugar por ter “nome” como músico, por ter anos de casa ou por saber “umas coisas” deve dar lugar a merecer o cargo por estar devidamente formado. E, com eventos como este, que existem cada vez mais por este país, tal deixou de ser difícil. Um aficcionado, com gosto e força de vontade, pode desfrutar dos ensinamentos de grandes mestres na arte de dirigir 50/60 músicos com uma batuta.
A Banda Musical de Amarante apresentou o conhecimento de Rafael Agulló Albors. Este nosso amigo, já com uma ligação forte à nossa cidade, fez uso do fim-de-semana passado para abrir um pouco “o livro” daquilo que o torna um dos melhores maestros do nosso país vizinho e da península. Do outro lado, diversos participantes tiveram oportunidade de dirigir a banda de estudo, a nossa Banda de Amarante, sendo que era a primeira vez para alguns. Outros elementos participaram como ouvintes, sendo que, aqui, a adesão de elementos da Banda foi bastante positiva, mostrando a identidade da Instituição focada na evolução constante.

A Banda foi exemplar, tocando ao seu melhor nível, nunca escondendo aos participantes os seus defeitos e as suas virtudes, de modo a poder ocorrer o fenómeno pedagógico de ensino e correcção.
A Banda segue o seu caminho e estes senhores também. Mais uma (a terceira) experiência de um projecto interessantíssimo. As bandas filarmónicas sempre foram um meio amador, a partir do qual se lançaram alguns dos melhores músicos do país. Os pergaminhos de excelência do nosso meio não devem nunca ser esquecidos e, se puder começar aqui o ensino empenhado e correcto de uma linguagem importantíssima no desenvolvimento da pessoa, porque não esforçarmo-nos?

Programa:

  • St. Thomas Choral – Pavel Stanek – por Emanuel Silva
  • A Little Concert Suite – Alfred Reed – por Alexandre Fraguito, Marco Pereira, Rui Leal e Paulo Veiga
  • Fanfare, Romance and Finale – Phillip Sparke – por Nélson Carvalho, Tiago Soares e António Ferreira
  • Olé! Contrabandistes, pasodoble – Ramon Garcia i Soler – por Luís Oliveira

sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

S. Gonçalo de Amarante - 2013


Ponto prévio: a Igreja de S. Gonçalo é fenomenal. Entrar pela porta do fundo e ver toda a assembleia reunida, numa nave imponente, de tectos altos, trabalhados a pinturas de uma arte e fineza deslumbrantes; ver (e ouvir) o órgão de tubos a conferir ao monumento o seu ambiente clerical único a par do leal coro da Igreja; ver os altares e suas talhas douradas, as inúmeras esculturas religiosas e toda a envolvência; observar, bem lá no alto, no arco abobadado da entrada para o altar-mor, o escudo da nossa Nação, sempre gracioso e enorme; ver no fundo de tudo a fantástica pintura da ascensão do Beato Gonçalo aos pés da Virgem e um enorme cartaz a dizer, simplesmente “Creio”. É uma experiência simples, acessível a qualquer um mas, bem saboreados os pormenores, uma memória que qualquer pessoa se deliciará de ter.
Voltando ao cartaz: “Creio”. Neste ano da Fé, a palavra é enorme e deve ser absorvida no nosso vocabulário e na nossa atitude de vida. O crer vai muito para além da fé que muitos tentam banalizar no ateísmo, por um Deus “incorpóreo” ou um Jesus “mágico”. O crer que Jesus existiu, que foi e é o “filho do Homem” e crer na omnipresença de Deus e no seu amor por todos nós é um dever de quem é religioso, sem dúvida. No entanto, a força da palavra “crer” vai muito para além disso.

Que levava S. Gonçalo quando decidiu construir uma ponte num sítio complicado do Tâmega, só pela vontade de fazer o bem pela comunidade? Levava o crer, a fé. Muitos dos milagres que lhe são atribuídos andam á volta dessa obra, dos feitos que contam tê-lo visto fazer, numa impossibilidade anunciada que era atribuída à construção. Se um milagre engloba todos esses contados em lenda, esse é o milagre do crer. A crença e a fé, antes de se sobrelevarem aos céus, tem que ter uma força terrena. Antes de mais, tal como S. Gonçalo de Amarante ensinou nos seus gestos, a crença tem que ser humana. Só crendo em nós próprios é que alguma vez conseguiremos perpetrar o milagre de atingirmos objectivos e fazer o bem por nós e pelo próximo.

No dia de S. Gonçalo, a comunidade que nele crê juntou-se na igreja, a rezar e a celebrar. A Banda Musical de Amarante é comunidade. Não faltou ao dever e ao chamamento e apresentou-se na cerimónia, apresentando o “Hino a S. Gonçalo” aos amarantinos. A crença é uma força que existe na Banda Musical de Amarante e os “milagres” aconteceram. A Banda respira vida renovada com dois novos executantes produzidos na nossa escola e no C.C. de Amarante, ganhou um importante concurso, tem uma obra pedagógica em constante evolução, traduzida na sua escola e nos seus estágios e cursos e tem um caminho de sucesso nos compromissos e romarias em que marcou presença.

2013 vai abrir um novo ciclo, a todos os níveis, no cerne da nossa Banda. 2013 vai apresentar enormíssimos desafios a todos nós. Só com muito crer é que conseguiremos encontrar o caminho certo. A Banda Musical de Amarante não desiste. O “creio” de S. Gonçalo é forte, muito forte, perpetua-se nas pedras brancas do largo de S. Gonçalo, nos sinos da Igreja, nas histórias da nossa cidade. Perpetuemo-lo nós também.