Avisos:

A Banda de Amarante vai apresentar-se em Peroselo, Penafiel, para a festa em honra da Nª Srª da Visitação, no próximo dia 7 -- VI Estágio de Verão e Curso de Aperfeiçoamento de Sopros e Percussão (este ano com o maestro José Rafael Pascual Vilaplana) de 19 a 23 de Agosto -- Banda Musical de Amarante - Vencedora do 1º Prémio/III Escalão do IV Concurso Internacional Ateneu Artístico Vilafranquense e Prémio Tauromaquia

terça-feira, 26 de abril de 2011

Páscoa 2011 - Três quadros

Há tradições que não devemos nunca terminar e que devemos dedicar-nos a elas, por muito desagradáveis que sejam, por muito trabalhosas que pareçam, por muito pouco musicais ou artísticas que se nos aparentem. À cidade de Amarante devemos tudo, incluindo a nossa existência e identidade. Somos a Banda Musical de Amarante, uma cidade que não foi a mesma sem nós, naquele curto período de existência em que fechámos as portas; uma cidade que chorou no nosso regresso, ironicamente na Páscoa de 2008. Assim, por esta terra que inscreve o seu nome nos nossos casacos e camisas, e nos nossos corações, que nos deixa saudades quando estudamos no Porto ou em Aveiro, trabalhamos em Lisboa ou no Algarve ou emigramos para a Suiça; por esta terra devemos sempre superar-nos, dedicar-nos com todo o coração, aguentar o esforço mental e físico que os desafios nos apresentam e ser rigorosos naquilo que fazemos. É com tal mentalidade, a de sermos amarantinos e darmos valor a isso única e simplesmente pela cidade que nos viu nascer, que nos devemos apresentar para um serviço artisticamente ingrato e penoso como as celebrações da Páscoa.

Começando pela Sexta-feira Santa, primeiro momento das celebrações pascais que adornámos neste ano. Às 21h00 o cortejo fúnebre saiu da igreja da Santa Casa da Misericórdia de Amarante. Devotos amarantinos dão um simbolismo e profundidade imensos à romaria, um silêncio aterrador constrói um carácter em sintonia com a ocasião. A isto tudo junta-se a sequência musical que a Banda confere. Ao som das marchas fúnebres "Alma Máter" e "Solidão", num toque seco de caixa, com uma enorme sensibilidade de dinâmicas e suavidade de som, os músicos da Banda Musical de Amarante ofereceram uma banda sonora intensa, pautada também com silêncios bem calculados, de forma a não tornar a procissão num "chapar" de temas, que cansariam executantes e espectadores. Uma noite agradável, com uma procissão carregada de fé, num escuro algo luminoso (ainda assim) e místico das pedras das igrejas que fazem parte do itinerário, numa bruma tamegã que embalava os presentes e conferia uma agradável temperatura. Ingredientes que viram uma noite perfeita ser apenas contrariada por um estabelecimento que sentiu necessidade de ter umas luzes um pouco mais ligadas que os restantes. Uma noite perfeita completamente estragada pelas sirenes de alarme e pela correria desenfreada dos veículos dos Bombeiros Voluntários de Amarante em emergência. Acabava de ocorrer uma tragédia em Vila Chã do Marão - um carro abalroava uma procissão de fé, ferindo várias pessoas e vitimando, ao que consta, outras duas de forma mortal. Um ponto final negro numa noite de vigília e de lamento cristão.

No Sábado, a Banda optou por não parar. Era tempo de trabalharmos aspectos importantes: união e arte. A união aperfeiçoou-se "em campo, dentro das 4 linhas". Os elementos da Banda pisaram o pavimento do pavilhão desportivo de Amarante, em S. Lázaro, para uma partida de futebol entre amigos. Um momento de convívio que tem sido símbolo do divertimento entre os músicos, perpetuado em dias importantes como têm sido, noutras ocasiões, as festas da Cidade e o Estágio de Verão. Desta vez a Páscoa também teve direito a esse momento, antes ainda de um ensaio geral. Aí, trabalhou-se a vertente artística. A sala de ensaio encheu-se para aperfeiçoar a interpretação das mais recentes obras do nosso repertório. Os músicos sentem hoje mais vontade de estar presentes e trabalhar. Dizemo-lo sem problema algum: tocamos obras difíceis e estimulantes e tocamo-las bem. A Banda encontra-se como uma só em palco (em ensaio, para já) e, de fora, diz quem sabe, soa bem. É o que queremos: não parar por aqui, mas sim passar por aqui num caminho que queremos percorrer sem parar - o caminho de nos melhorarmos a nós próprios.

No Domingo vinha a parte mais dura. Deveríamos, como em todos os anos o fazemos, acompanhar a Visita Pascal pela paróquia de S. Gonçalo de Amarante. A boa-nova da Ressurreição fez-se acompanhar por música de desfile. As casas estavam cheias de famílias para receber a Palavra e aplaudir a Banda.
Começou-se bem cedo, no Mosteiro de S. Gonçalo, onde as equipas e a Banda receberam as instruções do pároco e se fizeram ao caminho, pelo trajecto habitual. Pelo meio as pessoas a saudar o desfile, a oferecerem brindes aos músicos. Do lado de dentro da formação um convívio e boa disposição. Fez-se o caminho desde o centro histórico, pela zona marginal conhecida como Baseira, subindo à zona onde se encontram as escolas públicas, continuando até à partilha com a freguesia de Gatão, atravessando até à estrada nacional 15. Um caminho duro mas conseguido com brilhantismo, sempre acompanhados pelo som das campainhas de compasso, apesar da intensa pressão para andarmos mais rápido - mesmo tendo encolhido tempos conseguidos nos últimos anos.
Durante a tarde o cenário complicou-se. E nós, músicos, devemos ser os primeiros a apontar o dedo. Amarante tem o nosso pedido de desculpas pelo atraso no reinício. Foram curtos minutos, mas o suficiente para choverem críticas, seja de gente que só saber fazer isso (criticar) ou de pessoas que, com razão, se sentiram lesadas. Podemos culpar o trânsito ou os semáforos vermelhos em sequência. Mas atrasámos a saída e, hoje, devemo-nos sentir mais orgulhosos ainda de sermos amarantinos pois, apesar de tudo isso, o largo de S. Gonçalo manteve-se cheio de pessoas, sem perder a vontade de esperar pela nossa saída, até começarmos a desfilar rua acima. É sinal de que hoje somos admirados pela qualidade e não por sermos muitos em quantidade e termos muitas festas (o que até está a mostrar-se um cenário em franca melhoria) - mas também é sinal que somos uma instituição de uma cidade que nos respeita e ama, que espera por nos ver tocar e gosta do que vê e, acima de tudo, ouve. É esta qualidade que devemos trabalhar para conquistar os nossos concidadãos, uma conquista que é provada em momentos como este que, no meio de um desleixo nosso, acabou por ser positivo.
A Banda seguiu, então, a caminho do Campo da Feira, para depois descer ao quartel dos Bombeiros e seguir por sta. Luzia até regressar ao mosteiro. Foi duro, há que dizer. Estivemos sempre à beira dos compassos e acusaram-nos de atraso, choveu, protegemos o nosso instrumental e acusaram-nos de desrespeito por não tocarmos para as pessoas. São perjúrios de quem não compreende que somos uma só formação para 7 equipas de compasso e que tocar naquelas condições seria igual ou pior que colocar o órgão de tubos do mosteiro debaixo de "só umas pinguinhas". É isto que torna o serviço ingrato mas que, com a liderança firme de maestros e directores, permitiu que fizéssemos o nosso caminho até ao fim, com êxito, imunidade à pressão e premiados de aplausos pela nossa "casa irmã" que fica no quartel dos Bombeiros Voluntários, na sempre bonita cerimónia de tocar ao som das sirenes sob o cenário da multidão à volta da cruz de serrim.

Terminaria toda a celebração no início da missa, com uma marcha no interior da igreja. Mais uma Páscoa, a grande maratona que ensina humildade a quem desta Banda faz parte. Os parabéns a toda a organização por parte da paróquia e, acima de tudo, aos músicos da Banda pelo empenho. O desejo de boa sorte à nossa congénere da Lixa para o serviço, ainda mais puxado, do dia seguinte, na paróquia de S. Veríssimo. Os agradecimentos a quem nos recebeu no calor dos seus lares, especialmente para os executantes Agostinho Ribeiro e Beatriz Monteiro que, apesar de tudo, muita "ginástica" fizeram para estarem a tocar na Banda, receberem a Visita em suas casas e ainda receberem, também, os seus colegas para o convívio com bebidas e doces.

O trabalho continua, com a preparação de um concerto. Lutámos contra o clima, a resistência física, a pressão do evento e contra nós próprios. Mas, por uma cidade que o merece, estivemos à altura e prometemos igual ou melhor esforço e dedicação para este próximo concerto que queremos oferecer a Amarante, no próximo dia 1.